Diversas diss tracks surgiram em resposta ao Kendrick Lamar em poucos dias, causando uma enorme repercussão no cenário do Rap americano. Esse efeito, de cobrança aos rappers e chamado ''as armas", chegou rapidamente a Coreia do Sul, onde, no fim do mesmo mês de Agosto, com o instrumental de ''Control'', o rapper Swings lançou a track ''King Swings". Com os mesmos objetivos de Kendrick Lamar, o Swings em suas letras se coloca como o melhor rapper do cenário coreano, se auto-declarando "Rei", e atacando diversos rappers e crews como a Buckwilds (a maior crews do rap coreano, com nomes de destaque como J-Tong, Zico, UglyDuck, Giriboy, Andup, Lil Boi, TakeOne, dentre outros).
"Buckwilds e Do'main possuem muitos membros como a Wu Tang. Eu continuo sendo uma coisa nova, se eu colocar minhas letras em um livro, serão mais espessas , importantes e mais pesadas do que as letras de todos vocês juntos" (Swings - King Swings)
Essa música causou um impacto enorme entre os rappers do underground, revelando tretas antigas, e diversas ideias sobre os rumos do rap coreano que nunca tinham sido divulgadas publicamente. O primeiro rapper que respondeu o Swings foi o UglyDuck, dizendo que o Swings mudou depois de ter chegado a mídia.
"Por quê você gasta seu tempo exaltando seu orgulho proveniente do roteiro do Show Me The Money?" (UglyDuck - Ctrl + Alt + Del)
"Por quê você gasta seu tempo exaltando seu orgulho proveniente do roteiro do Show Me The Money?" (UglyDuck - Ctrl + Alt + Del)
Swings ainda lançou mais duas tracks, para o Simon Dominic e o UglyDuck. Depois dessa resposta, mais de 50 diss tracks com respostas as provocações do Swings surgiram, outros, aproveitaram o momento para atacar outros rappers, como o E-Sens, que dirigiu o seu ódio ao Simon Dominic (seu antigo parceiro do Supreme Team), Gaeko, e a sua antiga companhia, a Amoeba Culture (agência de artistas como Dynamic Duo, Zion.T, Crush, Primary, dentre outros).
Diversos rappers colocaram para fora seus pensamentos sobre as opiniões do Swings. Uma das respostas mais contundentes foi a do rapper TakeOne (Buckwilds):
"Ninguém reconhece sua capacidade musical, mesmo que sua popularidade aumente.
Não superestime sua influência que você tem por que olha para Beenzino. Vendo ele, nós sabemos que isso pode desaparecer qualquer dia quando você olhar para sua namorada"
"Sim, está certo. Eu sou da Buckwilds, também da Do'Main. Nós somos apenas amigos que fazem música sem ideais de negócios musicais"
"É irônico você mencionar Verbal Jin e San-E, por que eles também não mudaram?
"Isso será lembrado na cabeça dos fans de Hip-Hop desse rapper que é você, será lembrado como um rapper comercial'' (TakeOne - Recontrol)
Uma outra track que chamou bastante atenção foi a da rapper Tymee. Ela aproveitou o momento para demarcar seu espaço, declarando-se "Rainha", atacando as suas rivais, e todos os que a enganaram durante sua carreira, num movimento semelhante ao Swings de ''chamado as armas", porém de uma maneira mais agressiva e emocional:
''O que é necessário agora é uma revolução, não tenham medo e sigam em frente. Seus covardes malditos, apareçam, saiam agora, eu não sou um rei, mas sim uma rainha!"
"Não diga coisas sujas sobre mim em seu fã club, sua puta!" (Tymee - CONT LOL)
''O que é necessário agora é uma revolução, não tenham medo e sigam em frente. Seus covardes malditos, apareçam, saiam agora, eu não sou um rei, mas sim uma rainha!"
"Não diga coisas sujas sobre mim em seu fã club, sua puta!" (Tymee - CONT LOL)
O tempo foi passando e os ânimos hostis esfriaram. Porém isso não significa que os ranços entre os e as rappers do underground não tenham desaparecido. Pelo contrário, eles estavam sendo armazenados. Em programas de sobrevivência como o Show Me The Money e o Unpretty Rapstar, a prática de diss battles passou a ser explorada com maior frequência, e estes ranços por vezes serviram como meios para gerar audiência, colocando rapper contra rapper, sem os mesmos necessariamente possuírem um motivo para escrever uma diss, esvaziando o sentido e o significado da prática das diss tracks no Rap.
Em 2015 as coisas voltaram a esquentar de verdade. O rapper Keith Ape (The Cohort), em ascensão nos Estados Unidos, depois de bombar no YouTube com a track "It G Ma", declarou a revista Complex, que ''Na Coreia não existe nenhuma crew que eu entraria, a não ser a The Cohort, por que, você sabe, o rap coreano é ruim". Foi a faísca que precisava para os ânimos se acirrarem novamente. O rapper TakeOne (Sim, de novo ele!) prontamente respondeu essa frase do Keith Ape, com uma diss track, usando um instrumental de Seo Taiji & The Boys:
"A história se repete por ela mesma. Para ficarmos no topo nós apertamos as unhas dos nossos amigos. Antigamente nós queríamos ser japonês, mas agora nosso objetivo é os EUA. Você deveria voltar pra casa"
"Aonde estão indo os rappers que gritavam 'Rap coreano'? E JayAllDay que estava falando sobre 'Hip-Hop coreano' todo esse tempo? Agora ele está quieto, de uma maneira que não sei como. Nesses dias, o silêncio significa admissão. E o B-Free que vive no Instagram, agora está muito quieto, como não é de costume da parte dele." (TakeOne - Come Back Home)
Depois dessa track, rappers como Owen Ovadoz, J'Kyun e Simba Zawadi, para citar alguns rappers, saíram em defesa do Keith Ape ou para atacarem o mesmo, além de aproveitar para colocar de volta as frustrações com os rumos do rap coreano. Mas os ataques não pararam por aí. C-Jamm (JustMusic / Sexy$treet), lançou a track "Illusion". Uma track com letras pesadíssimas, e que atacou de A a Z no Rap coreano, colocando a seguinte questão para reflexão: O rap coreano está se tornando uma ilusão?
''Eu costumava ter sede. Meu destino era um oasis. 'Quando chegar lá, eu quero encontrar os reais MCs'. Maldição, o que eu costumava ver, não passava de uma ilusão. 'Real reconhece o real' é o que eles reivindicam. Mas eles estão de politicagem, esses rappers gays se odeiam. Falam merda das boybands de K-Pop mas tentam ser como o G-Dragon. Depois eles tentam ficar no topo das paradas do MelOn depois que perderam o tempo"
"O que você sabe sobre isso? Eu não gosto de falar de coisas que não me orgulham. Quando Superbee foi eliminado do SMTM todo mundo ficou confuso, mas aparentemente Incredivle está indo para a HIGHGRND"
"De qualquer modo eu estou bastante envergonhado por quê eu costumava ser um deles - isto é uma confissão. Eu digo 'Oi' para as pessoas se eu as respeito. J-Tong que eu costumava respeitar, escreveu a merda de música 'Gal'.''
''Agindo como se não tivessem interesse em competição. Preguiçosos o tempo todo mas agora eles inesperadamente estão querendo sucesso" (C-Jamm - Illusion).
Algumas punchlines citavam nomes, outras possuem indiretas, especialmente para a Hi-Lite Records. Paloalto (rapper e CEO da Hi-Lite), que respondeu o C-Jamm, dizendo as suas impressões sobre a legitimidade dos caminhos que a Hi-Lite está seguindo, além de que nesse jogo ele já é antigo e só tá buscando o que ele merece.
"Não mexa comigo, nem com o meu exército''. (Paloalto - Thank You And Sorry)
Porém, o Swings não ligou para o que o Paloalto disse e voltou para o combate, lançando na semana passada a track "Energy Freestyle". São dois minutos repletos de linhas que trazem questionamentos semelhantes ao C-Jamm, duas linhas, são indiretas bem específicas para Paloalto e a Hi-Lite Records:
"Eu tenho treta com metade da liga, por estabelecer as tendências. Eles falaram mal da minha estratégia, e terminaram indo para o SMTM" (Swings - Energy Freestyle)
A Just Music, assim, voltou ao centro das discussões dos amantes do rap coreano. O buzz gerado por "Illusion" fez com que Swings e C-Jamm gravassem um vídeo dialogando sobre a letra de Illusion e suas impressões sobre o que pensam em relação ao cenário musical atual. Ou seja, a treta foi tão grande que precisaram gravar dois vídeos para explicar seus pensamentos, tamanha a quantidade de ideias que os dois possuem sobre estas questões que trouxeram em suas letras. No primeiro vídeo, já prevendo o impacto de Illusion, a JustMusic lançou um making off, mostrando um pouco o processo de gravação e os pensamentos do C-Jamm, suas frustrações e seus desejos. Já no segundo vídeo, dividido em duas partes, Swings conversa com o C-Jamm também sobre a track "Illusion" e questiona que existem pessoas sem talento no rap coreano que estão tendo sucesso, e acredita que isso é algo injusto. Os vídeos abaixo possuem legendas em inglês!
Com toda essa produção, a JustMusic colocou suas opiniões, inclusive contemplando os fãs internacionais de Rap coreano. No post, podemos ver que isso é fruto de muitas desavenças, antigas inclusive, feridas que continuam sangrando e que vão gerar ainda muitas discussões e diss tracks. Cada rapper, cada crew busca seu espaço, a concorrência é forte e a disputa só tende a crescer. Nosso post buscou apresentar a vocês uma perspectiva histórica sobre as diss tracks no Rap coreano e as razões/intenções dos rappers que as fazem. Vocês concordam com as críticas que o Swings e o C-Jamm levantaram recentemente? O que acham das diss tracks? São boas ou ruins para o Rap? Deixem o seu comentário! Espero que tenham gostado da postagem!
2 comentários:
Vocês concordam com as críticas que o Swings e o C-Jamm levantaram recentemente? - Sim... e não chega a ser novidade pra ninguém aqui, até porque eu sempre falo que o rap kr não tem essência. Uma coisa é você saber a história e valorizá-la, outra coisa é você copiar tudo e querer ser algo que você não é, arrombando assim, o cenário da sua terra.
O que acham das diss tracks? São boas ou ruins para o Rap? - Acho que diss provam a capacidade de um rapper de poder se expressar e passar a sua ideologia fazendo um som. Não gosto de quem fica de indiretazinha em rede social. Tem algo contra alguém? ótimo. Mas antes de fazer uma diss tenha base. Acho que disses proporcionam evolução....
Obrigado pela resposta Lucas! Sim, acreditamos que as disses podem estabelecer novas possibilidades musicais para o Rap, de uma forma geral. Isso é importante, e não é de hoje que existe :)
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