Sobre os ''Ghost-Writers'', Unpretty Rapstar e o Mainstream coreano.



Olá pessoal!

Recentemente, uma questão polêmica tem começado a surgir com mais frequência no Rap coreano: sobre a existência dos Ghost-Writers (Escritor fantasma, traduzindo para o português). O que seria isso? São pessoas que produzem alguma coisa no anonimato, e outra pessoa recebe os créditos sobre o que foi feito. No caso especifico do Rap, os Ghost-Writers são Rappers, e que muitas empresas do segmento de entretenimento corano (SM, JYP, Star Empire, entre outros) utilizam Ghost-Writers principalmente nas partes dos Raps nas músicas de K-Pop.


O rapper Dok2, CEO da Illionaire Records, em um debate sobre o Rap coreano na Universidade do Sul da Califórnia (USC), quando perguntado sobre o que ele acha da presença dos idols rappers ele disse que ''não se importava, são seres humanos igual a nós''. A entrevistadora posteriormente perguntou: e as rappers mulheres? Dok2 disse que ''não acredita que elas escrevam suas próprias letras''. Duas interpretações podem ser feitas nesse caso: 1) Dok2 se referiu as rappers das girlbands de K-Pop ou 2) Dok2 foi extremamente machista e duvidou da capacidade das mulheres de escreverem raps.  (O vídeo abaixo mostra o momento exato da pergunta e a resposta do Dok2)



Independente do posicionamento do Dok2, implicitamente ficou presente no discurso dele a questão: Se as rappers não escrevem suas letras, quem as escreve? Aí que a polêmica do ghostwriting surge. No programa de sobrevivência, Unpretty Rapstar, do canal Mnet, em suas duas edições, tiveram idols rappers presentes entre as competidoras. Na primeira edição, a Jimin, que ocupa a posição de rapper do grupo Ace of Angels (AOA), depois do fiasco no primeiro episódio aonde as rappers tinham que fazer um rap de apresentação, introduzindo-as (ver vídeo abaixo, 3:14).


Depois disso, a Jimin começou a desenvolver letras consistentes, tendo uma evolução durante o programa e se saindo bem nos desafios, ganhando duas músicas (Uma com o Verbal Jint e outra com o MC META e o Nuck) ao ponto de as outras rappers se sentirem ameaçadas. Em tempo: Um dos rappers mais respeitados do cenário underground coreano, o Innovator (Semi-Finalista no Show Me The Money 4 e ex membro da crew Jiggy Fellaz) trabalhava na FNC Entertainment durante o período em que a Jimin estava no Unpretty Rapstar. Posteriormente, o Innovator assinou contrato com a FNC Ent. depois de sua boa participação no SMTM4. Com essa relação interna na FNC Ent e a consistência das letras da Jimin, a hipótese de que o Innovator foi o Ghost-Writer da Jimin parece bem plausível.

 
Esse instrumental é do Cornega, "Industry", música super politizada e com uma pegada dos anos 90. O rap americano dos anos 90 é a maior inspiração do Innovator, dá pra acreditar que ela realmente escuta esse tipo de som? https://www.youtube.com/watch?v=Eg-M63vv3-Y 

Na segunda edição do Unpretty Rapstar, duas idol rappers chamaram bastante atenção sobre a possibilidade de uso de Ghost-Writers: A Hyorin (vocalista do SISTAR) e a Jeon JiYoon (rapper do 4MINUTE). Outras duas idol rappers também participaram do programa (Yezi do FIESTAR e a Yubin das Wonder Girls), porém, as duas primeiras destacadas no texto chamaram bastante atenção sobre suas letras. A Hyorin, que no primeiro episódio não conseguiu nem dizer quais eram os seus rappers favoritos, assim como a Jimin, foi crescendo na competição, com letras de conteúdo muito poético, profundo demais para quem nunca tinha mostrado essas habilidades, com um amplo repertório de variações de flow, estruturas diferenciadas das rimas, coisas que é preciso MUITA prática para serem desenvolvidas, não é como escrever uma letra chiclete e repetitiva sobre amor ou praia.

É importante destacar que a Hyorin é uma artista da Starship Entertainment, que tem expandido suas referências musicais e vem abrangendo o Hip-Hop, recentemente o programa "No.MERCY" conteve uma disputa entre os trainees da Starship para debutarem. Os trainees vencedores geraram a boyband MONSTA X. Além disso, o rapper Mad Clown, também muito respeitado no underground, é um dos artistas da empresa. Suas composições são extremamente boas e profundas. Também é plausível a possibilidade de o Mad Clown ter sido o Ghost-Writer da Hyorin, considerando todos estes elementos colocados acima.


Já a Jeon JiYoon não apresentou letras tão poderosas, mas também teve a sua capacidade questionada por vezes no programa. JiYoon é uma artista da Cube Entertaiment, que possui em seu cast de artistas o rapper Yang Junhyung da boyband de sucesso BEAST. As letras que a JiYoon apresentou no programa não tem o mesmo perfil das composições do Junhyung, porém ela com certeza não foi desamparada, e minimamente conseguiu sobreviver no programa. Em tempo: JiYoon entrou durante o programa e conseguiu chegar nas Semi-Finais do Unpretty Rapstar. Não sem problemas.






A Yezi também levanta suspeitas, foram letras muito pesadas, porém as hipóteses em relação a ghost-writers por parte dela ficam um pouco difíceis de sustentar pela ausência de evidências e conexões de sua agência, a LOEN. Por último a Yubin, que apresentou letras muito regulares no programa, porém sua participação no programa foi mais para cumprir tabela e gerar alguma mídia positiva, do que necessariamente competir de fato.

Porém, a presença destas idol rappers no Unpretty Rapstar, e do festival de idol rappers no Show Me The Money 4, apresentam algumas importantes questões de fundo: 1) Alguns idols rappers sem espaços de destaque em seus grupos, tentam a sorte nestes programas de sobrevivência em busca de modificações em sua carreira, ou construir um espaço mais sólido na sua agência depois de provarem (ou não) o seu valor enquanto artista. 2) Estes idol rappers vão aos programas para gerarem publicidade para debuts ou comebacks dos seus grupos. O exemplo mais emblemático foi o caso do Vernon (rapper do SEVENTEEN), eliminado em uma fase posterior do Show Me The Money 4. 3) A indústria musical coreana hoje está totalmente focada em se apropriar o Hip-Hop enquanto conceito estético e sonoro para suas músicas. É a fórmula musical do momento. Diversas boybands como o mesmo conceito estão estão surgindo ao mesmo tempo. Em 2015, BTS, MONSTA X, 24K, MYNAME, UNIQ, MADTOWN, dentre outros, foram grupos que utilizaram o mesmo conceito, a mesma estética. Inclusive por vezes fica difícil de diferenciar um grupo do outro. O caso do MYNAME chama mais atenção, pois a rapper line do grupo (Jun.Q e SeYong) não possui vivência NENHUMA no underground, passaram um bom tempo promovendo no Japão e seu recente comeback, apresentou raps com uma estrutura muito diferenciada em comparação aos raps das músicas dos outros grupos. A consistência e o flow apresentados são muito bons, o que torna a hipótese de ghostwriting muito plausível. Escutem a música, principalmente a parte do Seyong, o segundo rapper.





Em uma recente entrevista para o site Asian Junkie, o rapper Bizzy (Membro do MFBTY, junto com o TigerJK e a YoonMirae) veja a entrevista aqui: http://www.asianjunkie.com/2015/04/16/interview-with-mfbty-trio-talk-wondaland-getting-blacklisted-idols-reality-shows-and-more/, declarou que foi Ghost-Writer de diversos idol rappers, porém, não revelou seus nomes por questões éticas e óbvias (é um de seus trabalhos, fonte de renda), comprovando que esta relação entre o Rap coreano underground com o mainstream existe.


 Este tema não é consenso entre os rappers. Uns condenam firmemente este tipo de prática, dizendo que quem leva os créditos de uma letra escrita por alguém não é um rapper. Outros, defendem que essa prática pode ajudar a elevar a qualidade musical, e que os Ghost-Writers conseguem traduzir as sensações e ideias que um artista pode apresentar, mas que não sabe colocar isso em um papel. E vocês? O que acham sobre este tema? Deixem suas opiniões!!!!






[ÁLBUM] JAY PARK - WORLDWIDE (2015)




Por Adriana Amorim

Como a grande maioria já sabe, recentemente o rapper Jay Park (AOMG) lançou um novo álbum. O trabalho intitulado "Worldwide", possui 18 faixas e varias participações de rappers ativos no underground sul-coreano. Algumas das musicas já são conhecidas, pois tiveram o seu lançamento antes do álbum, mas a grande maioria, só foi apresentada ao publico com o lançamento do álbum completo.



O álbum esta bem variado e atende a todos os gostos. Começando desde os que gostam de batidas mais dançantes até aqueles que preferem batidas mais pesadas. Além das colaborações de rappers de peso no Hip-Hop coreano. Separamos para vocês um breve resumo para cada uma das faixas:




1) Worldwide = Fala de como ele conseguiu chegar onde chegou com seu talento, mesmo algumas pessoas não acreditando nele. Conta com a participação de Dok2 e The Quiett (Illionaire Records), que acompanharam de perto a trajetória dele e relatam um pouco disso em suas letras, combinadas com uma batida forte, produzida por Cha Cha Malone (AOMG), que combinou bastante com o flow dos 3.



2) Don’t Try Me = Essa musica tem a mesma temática de Worldwide, porem, com a participação de UglyDuck (AOMG/Buckwilds) e com um sentimento diferente e mais ameno. A produção e refrão ficam por conta do Gray, que combinou as letras com uma batida leve, descontraída e dançante.
3) My Last = Essa com certeza a maioria já conhece! My Last tem uma batida contagiante o suficiente para agradar a qualquer um. A letra fala em como Jay já teve varias mulheres, mas agora que conheceu a garota perfeita, quer que ela seja a ultima em sua vida. A batida ficou por conta da produção do Cha Cha Malone e tem a colaboração do Loco (AOMG/VV:D) e do Gray (AOMG/VV:D). Essa musica possui MV, que foi lançado antes do álbum. Vocês podem conferir a explosão de cores e abs nesse link:


4) Mommae = Bom, Mommae é a musica que fala de curvas, cama, e “bolinhos de arroz que crescem”, sim, foi esse o termo usado na letra para definir as partes baixas do Sr. Jay Park! A batida é extremamente dançante e tenho certeza que ao ouvir, você vai inconscientemente mexer o corpo no ritmo, é inevitável! A produção ficou por conta do Gray, colaboração do UglyDuck e a musica também tem um MV, com direito a participação de Zico (Block B/Buckwilds), Loco , Simon D (AOMG) e Gray.



5) You Know = Musica de divulgação do álbum, com a participação de Okasian (Hi-Lite Records) nos raps e Hyuna (4Minute) no cliple, como “a mina que recebe as ligações do Jay quando ta bêbado e vai correndo, mesmo sabendo que ele não vai leva-la a serio”. Acho que com esta breve explicação sobre o papel da Hyuna, não é necessário falar sobre a letra né? KKKKKKKKKK. Esta musica também foi produzida pelo Cha Cha Malone. A musica também possui MV, que você pode conferir abaixo
. Curiosidade: as cenas do MV que se passam na boate, foram feitas na Secret Society, boate que pertence ao rapper Vasco (Just Music).




6) Cha Cha Cypher = Bom, esta musica não tem um assunto definido, pois por se tratar de uma cypher track, conta somente com uma batida simples (produzida por Cha Cha Malone), mas perfeita para acomodar os vários estilos de rima e temáticas dos rappers participantes, que são o G2 (Hi-Lite Records), Giriboy (Just Music/Buckwilds), Vasco (Just Music), Dayday, Seo Chulgu (Angdreville) e Dj Wegun  fazendo os scratches. Essa musica é ótima para quem quer se aprofundar mais no Hip-Hop coreano e conhecer novos rappers, pois variedade de estilos é o que não falta.

7) When = É uma musica com batida que lembra as musicas do final dos anos 90. Tem participação do Tablo (Epik High) e critica levemente quem diz ser do Hip-Hop, e aqueles que acham que para ser sucesso é necessário ganhar milhões e sempre ser 1° lugar nas paradas. Produzida por Cha Cha Malone.

8) Want It = A musica aborda varias coisas, mas acredito que o foco principal é como eles conseguiram atingir seus objetivos, mesmo quando varias pessoas torciam contra o seu sucesso. Tambem produzida por Cha Cha Malone, com uma batida no estilo Trap. Genius Nochang (Just Music) participa da faixa junto com B-Free (Hi-Lite Records).

9) My = Mais uma vez, ele fala em como foi difícil o caminho até o sucesso, mas desta vez, sem deixar de “agradecer” os fãs, os artistas de sua empresa, família e Deus. A faixa tem a participação do amor unilateral de Jay Park no Show Me The Money, Lil Boi (GEEKS/Buckwilds) e produção de Cha Cha Malone.

10) F*ck boy = Esta é uma musica de controvérsia, porem aparentemente, nas letras Jay fez uma diss para J.Y.Park (CEO da JYP Ent.). A letra da a entender que JYP continua prejudicando o Jay Park após ele ter deixado a agencia e que isso o causou seu ódio pelo J.Y.Park. A letra tensa, combina muito bem com a batida pesada feita pelo Junior Chef (Beatmaker da The Cohort) e o estilo do Bewhy (Sexy$treet), UglyDuck e Sik-K (Yellowsmob).

11) B-Boy Stance = Fala de viver a vida intensamente, mesmo com as dificuldades e, acima de tudo manter sua postura (no caso dele, postura de B-Boy). Mas creio que o destaque desta faixa é a batida oldschool, que lembra as musicas dos anos 90, mas sem deixar de lado algumas referencias dos anos 80. A batida te deixa a sensação de realmente estar em meio a uma batalha de B-Boys. A musica conta com participação do rapper Yankie (Amoeba Culture), Dj Wegun e Dj Friz nos scratches e Cha Cha Malone na produção.

12) Life = Aqui o Jay fala em como foi difícil ficar longe de casa, ser chefe de família e subir os degraus da fama, mesmo com as dificuldades em seu caminho. A letra tem participação de veteranos como Paloalto (Hi-Lite Records), Gaeko (Dynamic Duo/Amoeba Culture) e o Dj Wegun. Musica produzida por Groovy Room.

13) Boss = E depois de nos contar como foi difícil conseguir atingir o patamar de vida atual, finalmente ele nos conta como é bom não precisar de um emprego, pois agora é o chefe. A produção foi feita pelo Yultron, que fez uma mistura muito boa de rap com elementos eletrônicos e participações do Loco e do Ugly Duck. Essa musica também conta com um MV, que você pode conferir aqui:



14) LOTTO = Essa faixa possui participação do Geegooin (Rhythm Power/Amoeba Culture), participante do SMTM4. Infelizmente, não consegui informações sobre a letra da musica e meu coreano é péssimo! Então, essa vou ficar devendo. Produzida por Jahlil Beats.

15) Mommae = A faixa 15 trata-se de um remix, porem com participações de Crush (VV:D/Amoeba Culture), Simon D e Honey Cocaine, também produzida por Gray.

16) In This B*tch = Esta musica não aborda um tema especifico, vai desde como ele acha o rosto dele bonito e sabe que as garotas da noite querem ele, além do fato de que ele não desiste de metas e sonhos. A produção foi feita pelo Gray, que combinou a letra com uma batida suficientemente forte, porem, não agressiva.

17- On It = Em On It, Jay mostra o seu talento com as rimas, diz como as pessoas ficam perplexas com o fato de um idol “cuspir fogo” e ainda fala como gostaria de ter uma garota “mexicana, negra ou brasileira com a bunda grande”. Participação do Dj Wegun e produção do Gray. Confira o MV:




18) Seattle 2 Seoul = E pra finalizar, essa musica possui uma letra mais madura, fala do medo de perder a família e a responsabilidade que ele tem com ela, de orar por força quando se esta em um momento de desespero. A batida é calma e acho que foi uma ótima escolha, levando em consideração a letra mais séria. A faixa foi produzida por Slomdug.

Minha opinião:
Bom, não é novidade que Jay Park vem fazendo muito bem em sua carreira solo, tanto antes, como após lançar a AOMG. Seus trabalhos anteriores sempre foram recheados com influencias do Hip-Hop, mas com uma pegada mais mainstream. Worldwide realmente me surpreendeu! Tanto pela participação de vários rappers que eu gosto reunidos, quanto pela escolha das batidas.
A progressão do álbum foi perfeita. Começando com a já tão famosa colaboração com a Illionaire, depois batidas alegres e descontraídas, dançantes, até chegar em Cha Cha Cypher, que é bem comum no movimento Hip-Hop, mas dificilmente se vê em álbuns de artistas com apelo mainstream. A partir daí o álbum fica bem consistente e com uma cara bem underground.

Destacando a faixa 8 (minha preferida, tanto por conta da batida, quanto do feat) a pegada é totalmente pesada e, mantendo a o estilo até a faixa 11, que é bem oldschool e com certeza agrada gregos e troianos.
O álbum me agradou muito, é visível que ele evoluiu bastante na construção de suas letras. A escolha dos rappers para colaborarem em Worldwide foi perfeita! Mas sou suspeita para falar, pois gosto de quase todo mundo que participou do álbum e indico que vocês procurem por trabalhos dos outros rappers envolvidos nesse trabalho.

Pra mim este álbum deixou claro que Jay Park conseguiu o seu lugar no Hip-Hop coreano e não vai demorar muito para perder a imagem de idol que alguns fãs de Hip-Hop tem dele. Não que ser um idol seja um problema, na verdade vejo isso como versatilidade, mas ainda existem pessoas que os veem com certo preconceito.
Para mim o álbum esta mais do que aprovado e aconselho que ouçam todas as faixas e desfrutem da ótima produção que foi feita.
Talvez em uma próxima postagem eu fale um pouco dos rappers que colaboraram nas faixas. Por enquanto, é só.
Obrigada! 

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Baixe "WORLDWIDE" no link abaixo:
http://k2nblog.com/album-jay-park-worldwide/

[ENTREVISTA] RAP Made In Korea com KHUNDI PANDA!

Olá pessoal! É com muita felicidade que nós do RAP Made In Korea trazemos uma entrevista exclusiva com o rapper KHUNDI PANDA. Suas músicas tem tido uma grande audência no Soundcloud, colecionando milhares de plays, marcas significativas para um rapper da concorrida cena underground sul-coreana. Contactamos KHUNDI PANDA sobre a entrevista no Soundcloud, e ele foi super receptivo a ideia, ficando feliz em ver que os blogs estão ativos, confira abaixo a entrevista:




(KHUNDI PANDA) Me chamo Pock Hyun, e meu nome artístico é Khundi Panda. Eu moro na cidade de Suwon, na Coreia do Sul. Eu faço parte de uma crew chamada Purpura Ethics. Olá a todos os leitores do Brasil!

(RAP Made In Korea) 1) Quando você começou a escrever seus Raps? E por que motivo?

(KHUNDI PANDA) Escrevo Rap desde meus 13 anos de idade. Eu sofria bullying na escola e sempre fiquei a margem da turma, distante. Nada ajudava meu estado mental a não ser escrever e escutar Rap.

(RAP Made In Korea) 2) Agora, vamos falar sobre influências musicais. Quais são as suas maiores influências no cenário do Rap coreano?

(KHUNDI PANDA) Eu não costumo me inspirar nos artistas daqui da Coreia do Sul, mas, algumas vezes surgem músicas muito boas que por vezes acabam me inspirando. Recentemente, C-Jamm (Just Music/Sexy$treet)  lançou "Illusion" e me deixou muito inspirado!

(RAP Made In Korea) 3) O Rap coreano tem crescido em popularidade ao redor do mundo, muitas pessoas começaram a acompanhar e escutar os rappers depois de programas como Show Me The Money e Unpretty Rapstar. Qual a sua opinião sobre esses programas? É algo bom ou ruim?

(KHUNDI PANDA) As questões inconvenientes são muito óbvias e fáceis de perceber. Os elementos fundamentais que consistem na cultura que chamamos de Hip-Hop não são totalmente exibidos no show. Os programas mostram apenas as partes que podem chamar alguma atenção, o que praticamente corta totalmente a cultura Hip-Hop e enquadra dentro de um formato para o programa. Enquanto isso, uma vez que o canal Mnet é imbatível para apresentações de artistas desconhecidos, muitos rappers desconhecidos conseguem uma boa chance de se apresentarem para amplas audiências. Isto é importante, especialmente em um país como a Coreia do Sul, aonde os rappers não conseguem vender muito a sua música. Eu acredito que existem prós e contras sobre esta questão.

Capa da mixtape "Pandamonium"

(RAP Made in Korea) 4) Sua mixtape "Pandamonium" tem recebido bastante atenção no Soundcloud, milhares de plays! Qual o conceito principal presente em suas letras?

(KHUNDI PANDA) O principal conceito para as letras da mixtape eram "sons de outro mundo". Eu tenho meu próprio mundo de fantasias na minha mente, então eu acho que foi a partir disso que acabei pegando emprestado esse tema. Mas, infelizmente, eu realmente não refleti esses pensamentos diretamente nas minhas letras, porquê eu pensei: Desde que as pessoas não sabem do que se passa em meu mundo, eu devo, pelo menos, escrever letras que elas pudessem entender e sentir.

(RAP Made In Korea) 5) Qual a sua opinião sobre a atual cena do Rap coreano? O que você acha bom e ruim nesse cenário?

(KHUNDI PANDA) A cena do Rap coreano tem uma história relativamente curta. A cultura em si é uma importação de uma outra área com uma atitude diferente, por isso não tenho dúvidas que houveram problemas no processo de assimilação dessa cultura. A única coisa ruim é que, embora cada vez mais pessoas estão ficando interessadas no Hip-Hop, o aumento desse número não garante o futuro da cena do Rap coreano. Mais ações para mover a cultura Hip-Hop para o centro da cultura coreana são necessárias.

(RAP Made In Korea) 6) E por fim, quais são seus planos para o futuro???

(KHUNDI PANDA) Estou preparando minha segunda mixtape "KING IDDIM" e eu tenho algumas colaborações com outros artistas a caminho. Depois disso, não tenho nada planejado.

(RAP Made In Korea) Muito obrigado pela contribuição, Khundi Panda! Foi muito legal conhecermos um pouco mais do seu trabalho e sua visão sobre o Rap coreano!!! :)

E assim chegamos ao fim de nossa primeira entrevista! Em breve teremos mais conversas com rappers do underground coreano! Possuem sugestões de perguntas? Mandem uma mensagem para nossa página do Facebook, na RAP Made In Korea. Ah, e não deixem de conhecer e seguir o trabalho do Khundi Panda. Confira os links abaixo:

SOUNDCLOUD: https://soundcloud.com/platobeast
Baixe a mixtape "PANDAMONIUM": http://www.mediafire.com/download/bsfx7tgxhs8bgv7/PANDAMON!UM.zip
INSTAGRAM: https://instagram.com/khundipvnda/
TWITTER: https://twitter.com/KhundiElliot1


Rap coreano em foco: Uma perspectiva histórica.

Não é novidade que a Coreia do Sul tem exportado sua cultura ao redor do mundo. Através do K-Pop, a Onda Hallyu (ou Onda Coreana), desde o início dos anos 90 tem ganhado força. Grupos de renome como H.O.T, DBSK (Descritos pela Billboard como "a realeza do K-Pop")  e a cantora solista BoA ajudaram a espalhar o K-Pop pelo mundo. Outros elementos da cultura coreana ganharam popularidade, como os Doramas (Também conhecido como K-Drama), além de referências de Moda (K-Fashion).

Porém, um novo elemento musical coreano tem ganhado cada vez mais destaque: o Rap coreano (ou como ele é popularmente conhecido na Coreia do Sul: Hangul Hip-Hop). A Illionaire Records (Beenzino, Dok2, The Quiett) teve recentemente uma tour na América do Norte com casa cheia por onde passaram. E o rapper Keith Ape atualmente está fazendo sua carreira nos EUA, depois de atingir mais de 10 milhões de visualizações no YouTube com "It G Ma"


A prova disso é a vinda do rapper Basick (Campeão da última edição do Show Me The Money, programa de sobrevivência dedicado aos rappers coreanos)  para o Brasil, mostrando que o Rap coreano tem ganhado cada vez mais força ao redor do mundo, e nosso país está no mapa! ( https://www.facebook.com/events/516876761804337/)

Agora, vamos ao que interessa: Tudo bem, o Rap coreano tem ganhado força e popularidade através do trabalho duro dos/das rappers, além de realities shows como o Show Me The Money e o Unpretty Rapstar (Teremos postagens dedicadas aos realities logo mais), que tem ajudado a difundir o gênero. Porém, vocês conhecem a história do Rap coreano? Como ele chegou nesse estágio de popularidade? Vamos resumir em 3 fases:

1. Início dos anos 90.

O primeiro registro musical de algo que pode ser considerado "Rap" foi lançado em 1989. Hong Seo-beom [홍서범], um cantor de rock relativamente conhecido na época, gravou uma música chamada Kim Satgat [김삿갓]. A música foi uma grande surpresa e teve uma boa recepção, Hong rimou em cima de uma batida funkeada, porém foi um lançamento experimental, não havendo por parte do artista construir uma carreira relacionada ao Rap. Ele apenas fez uma música em sintonia com o que existia nos EUA. Atualmente não vamos registros do Hong Seo-beom relacionados ao Rap coreano, raramente seu nome é mencionado. Escute Kim Satgat [김삿갓] do Hong Seo-beom abaixo:




Artistas que vieram depois de Hong, e que faziam parte do K-Pop, Seo Taiji & The Boys [서태지], Hyeon Jin-yeong [현진영] e o Lee Hyun-do [이현도] são atualmente mais lembrados como pioneiros do estilo. Seo Taiji transitou por muitos gêneros musicais, já Lee Hyun-do e seu grupo Deux se dedicaram mais ao Hip-Hop.  Nessa performance de Seo Taiji & The Boys de 1995 vemos como o Rap começa a ganhar forma e conteúdo na Coreia do Sul:




2. Final dos anos 90 e início dos anos 2000.

Nesse período começaram a surgir artistas que se dedicaram exclusivamente ao Rap. A denominação "Rapper" começou a ser utilizada para se diferenciarem dentro do cenário musical e demarcando o surgimento do gênero na Coreia do Sul. Porém, dois níveis surgiram dentro do Rap coreano e que se desenvolveram simultaneamente: O "Overground" e o "Underground". Os artistas situados no Overground eram aqueles com oportunidades de participar dos programas de televisão, acesso as rádios, e tinham amplas vendas de discos. Já a denominação Underground, é dada aos artistas independentes, que produzem mixtapes em homestudios, e fazem performances em pequenos clubes, e festas. Tal dualidade permanece até hoje no Rap coreano, onde o termo "Mainstream" é hoje mais utilizado para denominar os artistas que permanecem em evidência na televisão.

Na Coreia do Sul, a indústria musical tinha (e ainda tem) muita influência dos EUA. Com o Rap não foi diferente. O duo Jinusean fizeram um grande sucesso, sendo até hoje o grupo de Rap que venderam mais discos na Coreia. Ambos eram "korean-americans", e eram sintonizados com o que existia de mais atual em termos de Rap além de terem sido produzidos por Yang Hyeon-seok [양현석]) do Seo Taiji and Boys (Hoje o presidente da YG Entertainment) , and Lee Hyun-do, duas figuras essenciais para o desenvolvimento do Rap coreano. Uma outra artista "korean-american" que surgiu nesse mesmo período foi a Tasha (Yoonmirae), sendo a maior estrela do grupo Uptown, sendo considerada por unanimidade na Coreia do Sul como a Rainha do Rap (Ver vídeo abaixo). Seu marido, Tiger JK (Drunken Tiger) também surgiu nesse período, trazendo a estética americana em suas rimas, mesclando inglês e coreano nas mesmas letras. Se Yoonmirae é a Rainha, claro que o Tiger JK seria o Rei.




3. Início dos Anos 2000 até os dias de hoje.

Enquanto os artistas do Mainstream produziam sua musica seguindo a influência direta das tendências vindas dos EUA, no Underground os rappers estavam preocupados em produzir suas músicas com suas próprias características, plantando suas genuínas sementes musicais no solo coreano. Algumas destas tentativas foram cruas e grotescas e, amplamente criticadas, não conseguindo superar o que estava sendo produzido pelos rappers do Mainstream.

Diferente dos EUA, onde o Rap surgiu nos guetos de Nova York enquanto um movimento cultural, sendo um pilar da cultura Hip-Hop, na Coreia do Sul esse processo de crescimento do Rap além do surgimento de uma comunidade, se deu na Internet. Com várias mentes pensando ao mesmo tempo, os membros das comunidades virtuais passaram a se reunir em suas cidades, escutando e debatendo as tracks produzidas nos EUA, e gradualmente foram produzindo os seus próprios trabalhos, socializando-os e fazendo história. Blex, foi o primeiro rapper a lançar, em 1997 um álbum completo de forma totalmente independente, chamado BLEX: Black Sounds, the First Sounds [BLEX: 검은 소리, 첫 번째 소리].  Rappers pioneiros como MC META do grupo Garion, e o DJ Wreckx (Primeiro dj coreano), surgiram nessas comunidades virtuais.  Enquanto os rappers do Mainstream queriam parecer e soar como Rap americano, os rappers do Underground construiram sua própria essência, buscando rimar em sua própria língua. pulando as barreiras linguísticas e culturais.

Uma figura adquiriu uma importância enorme para esse processo da quebra das barreiras linguísticas e garantir um Rap totalmente coreano: Verbal Jint. Enquanto muitos rappers faziam suas letras com rimas mecânicas e totalmente lineares, Verbal Jint começou a organizar suas rimas de uma forma tri-dimensional e progressiva, onde as frases rimavam, sem necessariamente focar em rimas no final das sílabas, assim, Verbal Jint brincou com as possibilidades linguísiticas criando diferentes estruturas de rimas, variando a velocidade e a ênfase a certas palavras. Pode-se dizer que Verbal Jint foi um dos primeiros a explorar a potencialidade do coreano para o Rap (Ver vídeo abaixo):






Assim, os rappers coreanos começaram a expressar seus pensamentos em sua própria língua, e isso trouxe implicações enormes para o Rap, onde suas próprias mensagens, referências e vozes ecoaram. Alguns rappers conseguiram transitar do Underground para o Mainstream, como o grupo CB Mass (Ver vídeo acima), derrubando uma barreira que possibilitou muitos rappers a alcançarem sucesso e venderem seus shows e seus álbuns, e chegamos aos dias de hoje com rappers como Zico (Block B), Dok2, por exemplo, possuindo reconhecimento dentro e fora do Mainstream. 





E assim, chegamos ao fim dessa postagem! O texto é longo, porém é carregado de informações que nos ajudam a entender como o Rap coreano se desenvolveu e chegou a sua forma atual. Lembrando que ele continua passando por um processo evolutivo e várias transformações estão ocorrendo. Ou seja, tem muita coisa boa chegando para a gente ouvir! Gostaram da postagem? Compartilhem nossa postagem no Facebook, e curtam a página do Rap Made In Korea!

REFERÊNCIAS:

[1] http://askakorean.blogspot.com.br/2015/02/whats-real-in-korean-hip-hop-historical.html (Artigo escrito por TK)

[2] http://seoulbeats.com/2014/02/hip-hop-dont-stop/ (Seoul Beats)


 
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